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segunda-feira, 29 de julho de 2013

SUMIÇO E PROTESTOS

Eu sumi, eu sei. Peço desculpas por isso (mais uma vez). E sumi justamente em um momento em que os temas que são o objeto desse blog ganharam um espaço nunca antes visto nos meios de comunicação alternativos e de massa e na boca do povo. E isso é o mais grave. Nunca antes na história desse país (parafraseando alguém), ou nunca antes desde que eu comecei a me ocupar do assunto (para ser mais modesto), temas como transporte público e política de mobilidade urbana tiveram tanto destaque. Claro que estou me referindo ao efeito das manifestações contra o aumento no preço das passagens de ônibus que eclodiram por todo o país desde o início de junho. E aqui tenho que pedir desculpas de novo. Não sumi porque estou participando ativamente das manifestações nas ruas, mas por compromissos profissionais mesmo, que ocuparam todo o meu tempo nos últimos dois meses. Minha militância no tema “se resume” à esse blog e à sala de aula. Onde acredito que posso levar um número maior de pessoas a refletirem sobre o assunto.

Desde o começo das manifestações nas ruas eu quero escrever algo sobre esse movimento. Mas o tempo estava (está) escasso. Como todos vocês já devem ter percebido, as manifestações não são sobre 20 centavos. Mas sim sobre o direito à cidade. Sobre o reestabelecimento da relação entre cidade e cidadania. Relação que vem constantemente sendo afrontada pelos governos municipais e estaduais. O aumento no preço das passagens foi apenas a gota d’água que entornou o balde da insatisfação da população dos grandes centros urbanos brasileiros com a falta de planejamento urbano e o descaso de alguns governantes com a situação da mobilidade urbana nas suas cidades. O que eu venho apontando em diversas postagens nesse blog: 


Os moradores das nossas capitais que cotidianamente são obrigados a se deslocarem entre a sua casa e o trabalho ou o lazer enfrentam um sistema de transportes desconfortável, inseguro, nada pontual e, sobretudo, caro. Muito caro para o serviço que é oferecido. Isso sem contar as quebras constantes (de trens e ônibus) e os engarrafamentos cada dia maiores. Ir e voltar do trabalho ou do lazer se tornou uma via-crúcis para moradores de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. E a culpa dessa situação é da falta de planejamento e investimento, por parte de prefeitos e governadores em uma política de mobilidade urbana que garanta ao morador o seu direito de ir e vir sem que precise gastar três ou mais horas do seu dia em deslocamento.

A população dessas cidades se deu conta de que o transporte público hoje no Brasil serve não às necessidades da população e sim aos interesses de empresários do setor e de seus aliados no Poder Executivo e no Legislativo. E o constante aumento no preço das passagens (sempre bem acima da inflação e sem a apresentação de planilhas que as justifiquem ) é a prova mais clara disso. A situação no Rio de Janeiro (já amplamente divulgada na mídia alternativa) é emblemática. O governador do Estado é casado com a filha do maior empresário do ramo de transportes do Rio de Janeiro: Jacob Barata, conhecido como o “Rei do Ônibus”, que veio do Pará para o Rio de Janeiro na década de 1950 com “uma mão na frente e outra atrás” (como se diz popularmente) e começou a trabalhar com transporte rodoviário no momento mesmo em os bondes começavam a ser substituídos pelos ônibus no Rio de Janeiro. Hoje Barata é proprietário de 25 empresas de transporte em quatro regiões do país. No maravilhoso mundo de faz-de-conta do capitalismo neoliberal, Jacob Barata seria um caso de sucesso nos negócios. Um empresário digno e bem sucedido que prosperou graças ao seu próprio esforço. O que não se conta nessa história é que o seu sucesso no ramo de transportes dependeu diretamente de um “bom relacionamento” com sucessivas administrações municipais e estaduais, que favoreceram o transporte rodoviário nas suas políticas de planejamento urbano (ou na falta de delas). Sucessivas administrações sim! Porque os atuais Prefeito e Governador do Rio não são os primeiros a favorecer os interesses dos empresários do setor. O interesse particular de Barata e de outros empresários do ramo é há muito privilegiado em detrimento das necessidades da população que utiliza o serviço. Segundo o jornal O Globo, apenas 4 empresários concentram um terço do transporte rodoviário no Rio. Privilégio que determinou ausência de investimento em outros modais, como o trem, o metrô ou as barcas (serviços que se encontram hoje privatizados e sucateados), ou mesmo em uma integração transmodal, que resolveria muitos problemas de deslocamento dentro da cidade, mas que certamente reduziria os lucros dos empresários de ônibus. Barata à frente. Para completar o ciclo, a esposa do governador e filha do empresário é, também, advogada dos consórcios particulares que administram o transporte público no Rio: a CCR Barcas, o Metrô Rio e a Supervia. 

As manifestações que continuam acontecendo pelo país, que começaram em São Paulo mas encontram nesse momento o seu maior foco de concentração no Rio de Janeiro (não por acaso, como pode se deduzir do parágrafo anterior), denunciam justamente essas parcerias entre o poder público e a iniciativa privada, onde os cidadãos não tem as suas necessidades levadas em consideração. Desde bastante tempo, mas principalmente nas últimas gestões municipal e estadual, a cidade vem sofrendo um processo profundo de privatização do seu espaço urbano. Tendo agora como desculpa a preparação da cidade para os megaeventos que já começaram a acontecer, o carioca vem sendo alijado dos seus espaços públicos de lazer e convivência. Foi-se o Maracanã, recentemente privatizado, e continua a luta pela preservação do Aterro do Flamengo. Vem sendo privado do seu direito de estar na rua. E a repressão às manifestações tem deixado esse fato bem claro. O carioca está indo às ruas para preservar o seu direito de circular na sua própria cidade sem que precise pagar pedágio para os grandes empresários, amigos pessoais de prefeitos e governadores. O carioca cansou de jogar Banco Imobiliário e resolveu jogar War.



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